quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O cigarro no cinema: 1897-2009


Nem bem amanheceu e a mocinha já está entregue à sua ocupação predileta. Lá está ela em sua negligée, recostada no divã e fumando. "A Morning wiff" ("Uma tragada matutina") diz a legenda da ilustração publicada na St. Paul's Supplement em 27 de abril de 1895. Confesso nunca ter dedicado muito tempo a pensar no papel exercido pelo cigarro na sociedade do final do século XIX e do século XX. Nunca até que minha orientadora Orna Levin (a quem, aliás, dedico a postagem) levantou uma lebre que valia a pena ser perseguida - e eu a perseguiria com mais pertinácia, não tivesse me aventurado por 15 dias num dos trabalhos mais bizarros em que me meti nos últimos tempos. Depois de quase sossobrar, eis-me aqui para tratar do assunto, o que farei, como sempre, en passant - minhas intenções épicas são sempre frustradas pela falta de tempo...
A moçoila da St. Paul não exibiu sozinha este que é, quiçá, o mais condenável hábito dos dias de hoje. Acompanharam-na uma procissão de mulheres, homens e crianças (!), apresentadas pelas empresas de cigarros para comprovarem como este nosso inimigo nº 1 da saúde pública era chique e saboroso. No início de 1920, quando saiu em volume o conto Fumo, da obra "Rosário da Ilusão" (1920), de João do Rio, a imprensa brasileira já havia sido visitada por uma porção dessas pessoas, como pude perceber passeando pelas folhas da época.
Revista Careta, Rio de Janeiro, 27 mar. 1920.



Revista Palcos e Telas, Rio de Janeiro, 27 jun. 1918


Revista Palcos e Telas, Rio de janeiro, 28 mar. 1918.

Na mesma época em que João do Rio dá vida à bituca de cigarro jogada na sarjeta por seu entediado dono - bituca que espirala um belo azul agradecido quando novamente ganha os dedos dele - o afrancesado almofadinha afirma que Son plaisir é ter entre seus dedos um fino cigarro da marca Veado, e até o garotinho sapeca diz não resistir ao cigarro York (e isso poucos dias depois de afirmar que seu pai aconselha que se fume York mesmo que para isso seja preciso andar "roto, mal arranjado, sujo"...). Ao vê-lo, não pude deixar de me lembrar da pré-adolescente Lucy Hill, da comédia de Billy Wilder "The Major and the Minor" (1942), que escondia uma caixa de cigarros debaixo da cama
O cigarro exalou charme por quase 100 anos. Quem, com mais de 25 anos, não se lembra dos belíssimos comerciais do cigarro Hollywood, que somavam rock'n roll e esportes radicais e fechavam com os dizeres: "Hollywood, o sucesso!".





A marca não deixa enganar de onde saiu a inspiração...
Os dedos seguram delicadamente o cigarro, do qual escapa uma fumaça suave que deixa o rosto do artista na semipenumbra. Impossível negar a elegância da linguagem corporal que acompanha o cigarro - mesmo que hoje saibamos de todo o mal gerado pelo seu consumo. Eu, que detesto seu cheiro, olho para a parede de meu quarto e vejo Audrey Hepburn segurando a piteira na legendária fotografia de "Bonequinha de Luxo", ("Breakfast at Tiffanys", 1961) meu retrato preferido da atriz. Hollywood decididamente teve um papel importante na disseminação do hábito. A mesma Ginger Rogers que se servia dos cigarros da pré-adolescente de "Major and the Minor", vinha de brinde com os cigarros Player's. E quanto esses brindes não apareceram nas telas, em filmes como "Ardida como pimenta" ("Calamity Jane", 1953) - em que a fotografia da atriz de revista vira mote para uma discussão protagonizada por Doris Day e Howard Keel -, ou "A Bela ditadora" ("Take me out to the ball game", 1949), em que os personagens de Sinatra e Kelly se gabam por ensinar o verdadeiro espírito americano aos moleques de rua ao dar a eles as fotografias de jogadores de baseball que vinham nas embalagens de cigarro.
Pesquisando a respeito do cigarro no cinema, ri da formulação de Moacir Scliar de que o auge da campanha de marketing para a venda do charuto foi quando Ingrid Bergman apareceu num filme dizendo que adorava seus fumantes. Não me lembro que filme é esse, mas não é difícil recuperarmos Miss Bergman na controversa pose. Vemo-la, por exemplo, em "Arco do Triunfo" ("Arch of the Triumph", 1948), em que ela interpreta uma cantora de um cabaré nublado pela fumaça exalada pelo cigarro. O pôster do filme ressalta a ambiguidade da personagem, que tarde demais acaba por preferir o amor de Charles Boyer ao dinheiro de Charles Laughton.

A verba que a indústria de cigarro injetou no cinema nos anos de 1940 e 50 foi responsável por números contraditórios: financiou uns filmes belíssimos e, por isso mesmo, glamurizou o hábito, incitando muitos a fumar. Décadas antes o cigarro já servia, no cinema, de metáfora para a relação sexual. Em "Flesh and the devil" (1926), Greta Garbo coloca-o entre seus lábios, acende-o e entrega-o ao seu amante. O soprar do fósforo dá lugar ao fade out - nada mais esclarecedor. Em 1933, na "Alegre Divorciada" ("Gay Divorcée"), a personagem de Fred Astaire leva a de Ginger Rogers ao êxtase na sequência Night and Day. Após a dança, ele a deposita no divã com a masculina sensação de dever cumprido (levemente machista, mas não por isso menos divertida) e oferece-lhe um cigarro. Eu não poderia deixar de colocar aqui a cena, primeiro dueto romântico do mais lindo casal de dançarinos da tela.

Outra película que captura o glamour que circunda o cigarro é "A Estranha passageira" ("Now, voyager", 1942), em que a patinha feia tornada cisne Bette Davis recebe do amado Paul Henreid o cigarro que ele mesmo acendera - a antológica sequência do ator acendendo os 2 cigarros tanto ilustra a liberação sexual da até então retraída mulher quanto sublima o ato, já que seu amado era comprometido.

Embora a história do cigarro no cinema remonte à época em que o medium surgiu (e prova disso é o curioso comercial do produto rodado por Edison no fim do século XIX, registrado no livro que acabou de chegar aqui em casa "Silent Movies: the birth of film and the triumph of movie culture, de Peter Kobel e Library of Congress"), é inegável que sua influência na sociedade de consumo tenha aumentado quando os ídolos cinematográficos também passaram a ser consumidos.

O último quadro da propaganda dos cigarros Admiral, rodada por Edison em 1897.

A rebeldia imersa em fumaça de Dean e Brando conseguiu inúmeros seguidores que desejavam se parecer com seus ídolos. Talvez seja por isso que, em 1951, estudiosos da área de saúde começaram a estudar a relação entre o fumo e as doenças. Coincidência ou não, em 1953 a personagem de Cyd Charisse, da "Roda da fortuna" ("The Band Wagon"), recusa o cigarro das mãos de Fred Astaire alegando que "uma dançarina não deve fumar". Cyd, bailarina de formação, confessou que só fumou uma vez na vida, em "Cantando na chuva" ("Singin' in the rain," 1952 ), quando interpretou a sedutora dançarina de cabaré que enreda a personagem de Gene Kelly na sequência Broadway Rhythm. A suposta propaganda antitabagista da "Roda da fortuna" é exceção no cinema, malgrado as contínuas descobertas sobre o malefícios do cigarro. Depois dela surgiram clássicos como "Bonequinha de Luxo", sem falar nos filmes mais recentes - impressionei-me com a presença contundente do cigarro em "Coco antes de Chanel" ("Coco avant Chanel", 2009), que vi no cinema no início desta semana.
Em meados do ano passado, São Paulo aprovou uma lei proibindo o fumo em ambientes públicos fechados. Mesmo hoje em dia, em que fumantes são perseguidos como criminosos, a arma do crime continua circundada por uma aura de fascínio. Por isso, não são poucos os articulistas que se batem contra a divulgação do fumo no cinema, intentando arrastar às telonas a proibição que vigora nas telinhas. Neste caso, o posicionamento talvez deva ser menos restritivista. Por que não exibir em TV aberta o belíssimo "Estranha passageira" - eu o vi pela primeira vez ainda menina na Globo e me apaixonei por ele logo de cara? Por que impedir que personagens acendam um cigarro para explicitarem sua rebeldia? A História atrelou ao cigarro uma imagem de charme, rebeldia e sexualidade - é bobagem negá-lo. Do mesmo modo que as crianças que veem Power Rangers não necessariamente sairão batendo nos pais, ou os jovens que assistem aos "Jogos mortais" não necessariamente brincarão com a vida dos desafetos, assim também aqueles que veem seus ídolos tragando com deleite não se tornarão fumantes. Não dá pra negar que a educação é o melhor caminho pra se evitar que as ilusões da tela se tornem uma realidade devastadora para muitas crianças, jovens e adultos. Lógico que é mais fácil tomar um atalho e recriar a censura no cinema. Porém, isso certamente não é o mais inteligente a se fazer.

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Falei a este respeito no "Estadão Acervo" do dia 31 mai. 2014. Para acessar o programa, clique aqui.

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Ídolos das telas em propagandas (explícitas) de cigarros:


Comecemos com Fred Astaire, que, na "Roda da Fortuna", ouviu da personagem de Cyd que "um dançarino não deve fumar". Aqui, ele divide com Rita Hayworth o anúncio dos cigarros da marca "Chesterfield". Detalhe: eles dançaram juntos no musical "You'll never get lovelier" (1942).

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Porém, bem antes disso, ainda na passagem do cinema mudo para o falado, Al Johnson, King Vidor e Betty Compson anunciam "Lucky Strike". Todos confirmam: "É torrado. Não irrita a garganta. não dá tosse".

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Spencer Tracy grita em alto e bom som que cigarros não fazem mal à garganta.

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Marlene Dietrich nos anos 50: "Testes científicos provam que Lucky Strike é mais suave que qualquer outra marca conhecida!".

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Hedy Lamarr diz: "Um bom cigarro é como um bom filme - sempre saboroso. É por isso que fumo Luckies!"

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Linda Darnell convida os consumidores de cigarro a mudarem para "Camels". "Faça o teste por 30 dias... veja você mesmo..."...

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Essa também era a marca preferida de John Wayne: "Não posso correr o risco de pegar uma irritação na garganta", diz ele, "por isso fumo Camels - eles são suaves". "Nenhum caso de irritação devido ao cigarro", corrobora o anúncio, sacramentado pela delicada mocinha fumando ao lado. Ironia cruel, considerando-se a doença que levou Wayne...

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O Papai Noel fuma "Pall-Mall" pelo mesmíssimo motivo... Desculpem, não consegui resistir a essa...

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Comprovando que cigarro e Natal se misturavam na Hollywood clássica, Ronald Reagan diz: "Mandarei Chesterfields para todos os meus amigos. Esse é o Natal mais feliz que qualquer fumante pode ter...". "Compre a bela Caixa-cartão de Natal".

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Outro Papai Noel fumante. Este prefere "Camel".

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Joan Crawford
descansa do seu papel no filme Manequim, da MGM, para atuar como a Mamãe Noel" para a Lucky Strike.

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O cigarro e a guerra se misturam nesta propaganda do "Chesterfield", anunciado por Veronica Lake, Paulette Godard e por uma Claudette Colbert fardada. Diz a propaganda: "Fotografadas no set do novo filme da Paramount 'So proudly we hail' (Saudamos orgulhosas)", de 1943. A história de amor em tempos de guerra ajuda a marca a convidar norte-americanas ao patriotismo: "A América precisa de enfermeiras... Aliste-se agora".

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Rita Hayworth assina embaixo: "Todos sabem que Chesterfield é minha marca".

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Gregory Peck também: "Se quer um cigarro Suave que Satisfaça, ele é Chesterfield."

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Glenn Ford, que atua no "Sr. Delicado", fuma um cigarro que faz juz ao seu personagem: "Fume MEU cigarro... Suave Chesterfield.

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E Kirk Douglas: "Chesterfields são tão Suaves que deixam um gosto fresco em minha boca".

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A marca é também a preferida de Arthur Godfrey, Bing Crosby e Perry Como, que cantam em uníssono o ABC de Chesterfield: "São suaves... muito mais suaves... Os melhores cigarros para você fumar.". A ênfase no "muito" carrega uma conotação muito diferente hoje...

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Lucille Ball começa se juntando ao ABC: "Chesterfield satisfazem completamente. São Suaves - muito mais suaves. É o meu cigarro".

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Mas depois troca-o por outro maior. "KING SIZE"..., que "supera qualquer outro em SABOR e CONFORTO!". "Sua garganta pode dizer (a garganta de novo...) é Philip Morris".

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E até chega a ilustrar uma caixa-presente da marca.

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E por fim, Betty Grable não tem vergonha de contar o que faz quando está com os garotos: "Com os garotos... Chesterfield".

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Meus muitos agradecimentos especialmente à minha amiga Cristina; a http://purviance13.blogspot.com/ e a http://www.emulsioncompulsion.com pelas imagens.

26 comentários:

angela disse...

Danielle
Um post lindo, só sua exigencia para critica-lo. Muitas informações e uma analise clara e sem preconceitos.
O cigarro de fato é associado a charme e tem muitos filmes que assim o mostram. Muito do que hoje é criticado no cigarro passa em branco ou é glamourizado. Lembro de um filme com Jerry Lewis em que ele se transforma em um sedutor e dança com com um cigarro na mão dando baforadas generosas e enchendo de fumaça seu par (não lembro do nome da atriz e nem do nome do filme) Pode até ser entendido como uma crítica pois ele o faz exageradamente. Esta minha analise pra lá de superficial muito distante do seu belo texto.
beijos

Lorena F. Pimentel disse...

Danielle,

Adorei a resenha. Antes de surgirem as propagandas contra o consumo do cigarro, este de fato era tido como uma espécie de acessório às mulheres glamourosas. Audrey Hepburn e sua piteira em Bonequinha de Luxo é uma marca indelével.

Não fumo, e adquiri uma certa aversão ao cigarro, por ter dentre várias mulheres na minha família, a minha mãe como fumante. Mas confesso que todas as vezes em que me encontro em situações de extremo estresse ou onde meu emocional está abalado, consigo me ver na sacada de um quarto fumando cigarro. Minha irmã constantemente brinca que a minha mente funciona como a de uma estrela com um certo ar decadente.

Adorei!

As Tertulías disse...

Pefeita, maravilhosa postagem!!! Só senti a falta de "um cigarro" famosíssimo do cinema - aquele de Jenifer Jones e William Holden em "Supício de uma saudade".... Aliás, deverias um dia fazer uma postagem sobre o "cigarro depois" (e quantos foram fumados no teatro dando a entender o que tinha acontecido antes do "depois" - linguagem hollywoodiana). Amei realmente esta tus pesquisa! Parabéns!!!!

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Queridos, obrigadíssima por passarem por aqui e pelas palavras tão carinhosas!
Primeiramente, Lorena, deixe-me contar uma coisa muito engraçada: Sabe o que aconteceu depois que li seu comentário? Sonhei que estava fumando. Agora, compartilhamos tanto do horror pelo cheiro do cigarro quanto pela entrega decadente ao hábito de fumar!...
Ângela, não conheço esse filme do Jerry Lewis, mas você tem razão - ele certamente fazia uma charge dos galãs machões das telonas! Que delícia!
Ricardo, você tem toda razão! A Cris me lembrou de outras imagens também, e é bem possível que com isso eu faça um adendo ilustrado ao post: "O cigarro no cinema parte 2, o retorno!". Preciso também agradecer a sua leitura e comentários que me mandou por e-mail, Orna. O retorno de vocês me deixa muito animada pra escrever!

Bjos da Dani

Lorena F. Pimentel disse...

Engraçado como o nosso psicológico funciona, né, Danielle? Bom saber que compartilhamos o mesmo problema. ;)

Já respondi aos seus comentários no meu blog. Muitíssimo obrigada pelo feedback.

Danilo Ator disse...

Li o post sobre o cigarro no cinema. Você é uma capricorniana muito modesta. Escreveu um comentário no meu blog eleogiando meu pique na escrita e as imagens. Chego no seu blog e me deparo com posts extensos e bem escritos. O uso inteligente da intenet é pra isso mesmo, dividir opniões, disseminar informação e fazer boas amizades. Abraços.

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Danilo, muito obrigada pelas palavras! Seu blog é incrível, gostei muito de passear por ele e farei isso muitas vezes.
Obrigada pela visita!

Bjos
Danielle

.. disse...

O universo do cigarro ja passou por varios esteriotipos, ser considerado sinonimo de maturidade para o homem, a chegada de um filho homem com charuto e ate glamorizado pelos artistas de Hollywood.
Rita Hayworth, Ingrid Bergman e Audrey Hepburn nunca me convenceram como fumantes :)

Eu fumo, mas o comercial ''Hollywood é o Sucesso'' sempre me pareceu tão falso, pq nunca ouvi falar, nos anos 80, que atletas naturebas, de esportes radiciais, curtissem cigarro.

A propaganda do cigarro Carlton à noite, era sempre sobre eventos artisticos, como peça de teatro, exposiçao de artes e com um refinamento que até hoje nao vi em outro produto.

Eu assisti ao filme ''The Hunger'' 1983, é impressionante pq em todas as cenas, tem um ator ou atriz acendendo um cigarro, dá para ficar embriagado(a) com a fumaça.
A Catherine Deneuve fumando sem tragar, so para deleite de sua beleza, pq assim como Audrey Hepburn e Rita Hayworth nao devem gostar de fumar mesmooo.

O filme ''Obrigado por Fumar'' 2005 vem mostrar a face real do cigarro, e é a otica tual do cigarro no cinema, o filme tem o tom de humor negro. O cigarro que vitimou tantas atrizes e atores classicos pelo cancer: Greta Garbo grande consumidora de Marlboro vermelho.
A guerra em torno da proibiçao do cigarro, vem como sempre, de fora, estamos nos tornando uma sociedade proibitiva, assim como EUA, tudo é ou será analisado por leis que proibem determinado conteudo improprio em publico.

.. disse...

Interessante os anuncios de cigarros antigos, totalmente amorais, pq nao tem como recriminar o anuncio da criança que fuma seu cigarro, sem ser incomodada por leis pseudo-morais, dizendo o que é certo ou errado.

O cigarro é um produto do governo!!!

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Cris, você disse umas coisas incríveis! Eu nunca pensei na propaganda do cigarro hollywood sob o ponto de vista de alguém que fuma. É verdadeiramente engraçado relacionar cigarro e atividades que exijam esforço físico (a Cyd Charisse já diria isso). A elegância de um cigarro noturno tem muito mais a ver com o cinema de Hollywood que a própria marca que leva o nome da "capital do cinema"!... Dê uma olhada nas propagandas de cigarro que acabei de colocar. Há uma com a Rita Hayworth. E sobre o anúncio protagonizado pelo menininho... verdadeiramente é amoral. Até onde eu sei, naquele momento não se tinha ideia de qualquer malefício ocasionado pelo cigarro!

Bjocas. Adorei seu comentário!

Aline Rocha Taddei Brodbeck disse...

Só para constar. De Audrey Hepburn não pode ser dito que não gostava de fumar. Ela fumava na vida real, não só nos filmes. Há várias fotos que mostram isso.

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Oi, Aline!

Não duvido, mesmo, que ela fumasse. O consumo do cigarro era algo vulgarizado (e mais que incentivado) na época. E a Audrey foi mais uma que engrossou a lista de vítimas fatais que ele fez, infelizmente.

Bjos e obrigada por comentar!
Dani

Ana Laura disse...

Dani querida!!!

Amei o seu post!! Mesmo!!!

Mto interessante vc comentar esse glamour em torno do cigarro. Realmente nada mais sexy do que a Marilyn usando um vestido justo, lábios vermelhos e um cigarro entre os dedos.
Se vc voltar a qualquer filme noir do período clássico tb vai ver que a femme fatale indubitavelmente estará soltando baforadas de cigarro.
Hj em dia não se usa mais o cigarro para fazer essa associação com a sedução. Ao menos, não me lembro de nenhum filme da Angelina Jolie com um cigarro entre os dedos (ok, ela não chega aos pés da Marilyn, mas foi o melhor modelo de atriz sexy que eu encontrei).

Só para acrescentar: acho que na sua lista, vc deveria ter incluído o Marlon Brando e a Brigitte Bardot.
O primeiro estava com um cigarro na boca desde os primeiros filmes, seja para fazer pose de galã, como em O último tango em Paris, ou para ficar com um ar mais sério, como em O Poderoso Chefão.
E quanto à Brigitte, acho que naquele filme E Deus criou a mulher tb tem uma parte em que ela fuma como uma chaminé, qd qr seduzir seu marido.

Deixo, além dos meus parabéns, alguns links para vc:
1) http://www.unioeste.br/prppg/mestrados/letras/revistas/travessias/ed_007/CULTURA/IMAGENS-CORPOS%20SEDUTORES.pdf
Esse é um artigo que fala sobre a sedução no cinema e obviamente não deixa de comentar o uso do cigarro.

2) http://cineinblog.atarde.com.br/?tag=marlon-brando
Veja o post "divas chaminé". Mto bom!!!

Ah!! E pra fechar: tenho um artigo no SEPEG sobre as propagandas de cigarro rs. Coincidência, né??

Bjsss

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Ana, é você?!

Fico feliz que tenha gostado! O tema é fascinante. Você viu que todos que comentaram lembraram-se de filmes nos quais o cigarro exerce papel de destaque. O Brando entrou no post só de passagem - embora eu o adore. Preciso fazer um mea culpa, pois nunca vi um filme da Brigitte Bardot, mas há umas fotografias lindas dela com o cigarro na boca - inclusive naquele artigo cujo link você me mandou, e que eu já baixei (brigadão!). E, a propósito, cadê o link de sua apresentação no Sepeg. Deixa de ser modesta e me manda logo o link!

Cigarro tem relação estreita com a sedução (adoro como ele é usado no número do Night and Day na "Alegre divorciada), com o mistério, com a violência. Ele foi transformado em símbolo pelas mãos de tantos grandes diretores, por isso ainda aparece tanto no cinema, mesmo com a repressão que vem sofrendo.

Bjinhos. Volte mais vezes!
Dani

Unknown disse...

Danielle,
estou fascinada com seu texto sobre o cigarro no cinema. Seu trabalho me impressiona cada vez mais: desde a qualidade do texto, passando pela pesquisa, incluindo a das imagens(totalmente conectadas ao assuntos).
Bom, eu tenho uma relação delicada com o cigarro, pois meu pai foi fumante dos 20 aos 63 anos de idade. Hoje, ele tem 66 e não fuma graças a um pedido meu cheio de lágrimas. Quando eu estava na escola, com uns 13, 14 anos, tivemos uma palestra sobre os danos causados pelo fumo. Fiquei horrorizada e quando cheguei em casa, pedi chorando a ele: "Pai, pára de fumar, senão você vai morrer!". Ele diz até hoje que aquilo cortou o coração dele e então a minha imagem chorando e implorando ficou na mente até ele parar. E advinha como ele pegou este vício? Com os ídolos de Holywood. Ele me fala que na época em que ele era garoto a coisa mais elegante e bonita era uma atriz fumando ou um ator. E todos saíam do cinema com vontade de fumar, para "ser igual a seus ídolos". Mas o mais estranho é que, anos depois, quando já estava na faculdade, eu me senti atraída pelo cigarro, vc acredita? É até uma vergonha eu falar isso aqui, já que estamos no século 21, mas não posso ocultar: Quando vi "Laura" pela 1ª vez, Gene Tierney fumando era tão elegante, tão bonito, que eu resolvi experimentar. Hoje luto pra não fumar mais por causa do canto lírico. Sou soprano e "uma soprano não deve fumar". Vc deve se perguntar: Mas Dani, como nos anos 2000 vc cai numa dessas? Pois é, foi Hollywood, mais uma vez, e seus encantos, como uma sereia, nos carregando pro fundo do mar.

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Olá, Daniele!

Adorei ler o seu depoimento tão detalhado e que traz uma porção de questões interessantes. Mas, antes de tudo, deixe-me agradecer por suas palavras carinhosas a respeito do post. Muito obrigada, mesmo!

O uso do cigarro pelo cinema é um assunto que dá pano pra manga. Não faz um mês, a Folha de S. Paulo publicou um suplemento comentando a legislação contemporânea referente ao cigarro: não só o Brasil, mas outros países - como os EUA, cujo cinema foi responsável por viciar milhões - estão cada vez menos tolerantes com relação aos fumantes.

O que mais me fascina é como o hábito tão perseguido pela sociedade - e visto de modo enviesado por nós que não fumamos - ganha nossa fácil aceitação tão logo o vemos no cinema.
E mais, graças ao poder de identificação que tem a imagem cinematográfica, acabamos nos projetando nos fumantes glamurosos da sétima arte e caindo em tentação - como aconteceu contigo ao ver "Laura".

Por isso, opto pela constatação óbvia de que a escola tem o papel fundamental de ensinar sobre os malefícios do cigarro e sofisticar o olhar dos estudantes no que toca às propagandas de fumo e aos filmes em que ele aparece. Seria muito melhor que estudantes fossem esclarecidos do papel ambíguo desempenhado pelo cigarro ao invés de simplesmente se censurarem filmes em que aparecem pessoas fumando.

Bjos e até logo
Dani

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Antonio N. Júnior, editor do ótimo "Falcão Maltês", publicou meu post na edição de 12/10 de seu blog (http://ofalcaomaltes.blogspot.com/2011/10/e-proibido-fumar_11.html).

Agradeço muito ao amigo pela divulgação do texto e aos seus leitores por terem-no lido! Tomei a liberdade de colar aqui os comentários dirigidos diretamente a ele, pois vários trazem contribuições interessantes para o desenvolvimento do tema:

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pinguim disse...
Meu Deus,quando revejo um clássico, é que reparo, que toda a "minha gente" fumava.
Desde que começou a época restritiva do tabaco, aconteceu o contrário: ninguém fuma nos filmes, ou isso acontece rapidamente.
De onde se pode concluir que o cigarro é um elemento decorativo perfeitamente dispensável, no cinema.

11 de outubro de 2011 19:51


Cristina Queiroz disse...
Às vezes fico imaginando como era o odor nos sets de filmagem, ahahahah... ótimo texto, Antonio! Coincidentemente, estava falando sobre isso outro dia mesmo, com um amigo fumante...

11 de outubro de 2011 21:44


M. disse...
Todos podres de chics com os seus cigarrinhos! Só nos áureos tempos de Hollywood se sustentava esse charme tão prejudicial à saúde. Por causa dos artistas, muita gente se influenciava.
Adorei o texto e imagens! Abraço e ótimo feriado.

11 de outubro de 2011 22:43


renatocinema disse...
Fico impressionado com a riqueza do seu site.

Bela homenagem a esse "personagem" cinematográfico.

Adorei o texto.

Senti daqui o cheiro da fumaça.

11 de outubro de 2011 23:35


Edivaldo Martins disse...
Nahud, Gary Cooper e John Waine eram notórios fumantes, mas não vem a imagem de fumante de James Stewart, nos westerns de Anthony Mann.Outro que fumava muito nos seus filmes era Glenn Ford. Porém o maior fumante, sem dúvida,foi Humphrey Bogart.O único filme que Bogart não fuma,já que estava com cancer, é no grande filme A NAVE DA REVOLTA. Neste filme o diretor Edward Dmytryk, arrumou uma fórmula para que Bogart não ficasse nervoso sem o cigarro entre os dedos, arrumou umas bolinhas para que ele as movimentasse entre as mãos...Grande sacada...

12 de outubro de 2011 00:25

continua

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Marcelo C,M disse...
Eu não sou fumante, porque não vejo qual a graça de colocar fumaça no pulmão. Mas se tem um lugar que aprecio o cigarro é no cinema, principalmente na era de Ouro, quando fumar tinha o seu charme e se misturava com clima de um filme noir, policial ou dentre outros gêneros. Agora, li recentemente que estão querendo que qualquer filme que mostre alguém fumando, que seja inadequado para menores de 18 anos. Ou seja, qualquer filme daquele tempo será inadequado para os jovens de hoje???

Da um tempo né.

12 de outubro de 2011 10:04


Lê disse...
É impossível falar de cigarros no cinema sem se lembrar de Bette Davis ou Humphrey Bogart. Rita Hayworth também apareceu fumando em vários filmes. Gene Tierney começou a fumar para engrossar a voz. Uma pena que as consequências do ato não eram conhecidas na época.
Qualquer espectador do cinema tem discernimento e informação para saber que cigarro não é mais sinônimo de glamour. Não vejo motivo para censurar o fumo nos filmes.

12 de outubro de 2011 11:06


ANTONIO NAHUD JÚNIOR disse...
Realmente essa proibição é absurda, Marcelo. Tantas outras coisas que são mais letais e vivem nas telas... por exemplo, a violência de um Tarantino... O ideal é orientar, esclarecer, nunca proibir... Confesso que acho o maior charme contemplar atores clássicos fumando em cena...

13 de outubro de 2011 11:32


siby13 disse...
Extremamente charmoso fumar na "Era do Cinema de Ouro", porém sabe-se o quanto é prejudicial.
Gary meu amado, sempre fumava, sempre posando para fotos.
Quanco criança achava o máximo porque não tinha a noção do mal, hoje quando o vejo com cigarro tenho uma vontade louca de tirar de suas mãos, rs
Ah... Gary... Gary...

13 de outubro de 2011 21:16


Edivaldo Martins disse...
MAMIE, DEVE TER LARGADO OS CIGARROS, AINDA ESTÁ VIVA!

14 de outubro de 2011 17:22


Jamil disse...
Muito bom o texto de Daniela Carvalho. Preciso passar mais no blog dela.

14 de outubro de 2011 18:46


Marly disse...
Oi, Nahud,

Cheguei e gostei do blog, você adota um tom coloquial sem deixar de prestar informações fundamentadas. Gostei também do nome, pois gosto não apenas do filme, O Falcão Maltês, mas também do livro de Dashiell Hammett.
O cinema realmente contribuiu muito para a popularização do hábito de fumar. Recentemente eu estava assistindo ao seriado norte-americano 'Mad Men' (ótimo por sinal!) que conta a estória de uns publicitários dos anos 60 e nele fica evidente que todo mundo fumava! rsrs.

Um abraço, boa noite e bom domingo!

15 de outubro de 2011 19:39


ANTONIO NAHUD JÚNIOR disse...
Edivaldo, a Anitona Ekberg também ainda está viva e continua fumando...

17 de outubro de 2011 10:41


ANTONIO NAHUD JÚNIOR disse...
Os textos de Danielle são excelentes, Jamil. Sou leitor fiel do "Filmes, filmes, filmes!".
17 de outubro de 2011 10:43

*

Mais gente comentou esse post lá em uma semana do que aqui em um ano e meio!... Antonio, sempre que quiser, be my guest...

Edison Eduarddo disse...

Oi, Dani...

Vim parar aqui por causa do "All About Eve" que vc tinha ma mandado qdo voltou de Paris e, como estava na caixa fechadinho junto com as fotos, diferente dos outros filmes que mandou, tinha me esquecido... Mas arrumando algumas coisas aqui, achei...

Cliquei na Bette Davis, mas a fumacinha de fumo no filme é algo T-Ã-O IMPRESSIONANTE, que creio ter caido no lugar apropriado!!!

Chega a ser incômodo! A Margo Channing fuma na cama, ao telefone, no café da manhã, tomando drink no restaurante... Fumaça vem, fumaça vai e sempre pro lado oposto da pessoa com quem ela está falando... Quase um personagem do filme... Tem um cara que fuma com piteira!!! Vi isso uma vez há muito tempo qdo ainda era criança!!! Nunca mais...

Mas o filme é bom, eu já tinha visto, só que agora, depois de 'Sunset' e da sustentabilidade, com certeza, o vi com outros olhos... Vendo os dois, vc continuaria dando o Oscar de melhor filme à "A Malvada"??? Ehehehee... Bjão!

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Não é mesmo, Edison? Sabe que não pensei na "Malvada" quando fiz este post; no caso da Bette, preferi me concentrar em "A estranha passageira", em que o cigarro exerce um papel erótico.

O cigarro está mais imbricado na indústria do cinema do que pensamos. Um acordo financeiro entre as duas indústrias fez Hollywood criar uma gramática do cigarro à qual estamos indissoluvelmente ligados. Mesmo nas novelas brasileiras até dos anos 90, antes das proibições mais severas à propaganda do cigarro, o fumo aparecia com papel importante,
repetindo a relevância que ele teve no cinema americano (e talvez até mesmo repetindo o conluio entre a TV e as empresas produtoras de cigarro).

Fico contente que tenha visto o filme! Acho-o ótimo e gostei ainda mais quando o vi poucos meses atrás, pela, sei lá, décima vez. Mas ainda daria o Oscar daquele ano para "Crepúsculo dos Deuses"...

Bjs e inté
Dani

Edison Eduarddo disse...

Ah, vc sempre me instigando com os filmes... Não vi 'a estranha passageira' mas agora estou morrendo de vontade! Fico imaginando a Bette Davis entre seus cigarros... Não foi com esse que ela ganhou um Oscar?

Eu tb daria a "Sunset..." o Oscar naquele ano... Estou virando fã da Gloria Swanson!!! Bjão, Dani!

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Eu sabia que isso ia acontecer, Edison. É fácil se encantar com a Gloria Swanson! Agora, "A estranha passageira" é um dos meus preferidos de todos os tempos. Tããão lindo! Gravo-o pra ti quando vc vier aqui.

Bjs
Dani

Detetive disse...

Olha eu estou pesquisando sobre o assunto e seu vídeo é bem completo, parabens belo trabalho viu!!!

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Obrigada, detetive!

Abss
Danielle

Anônimo disse...

Olá, Danielle, permita que me apresente. Meu nome é Claudio D'Amato,fumante. Em plena época de paranóia antitabagistas, encontrar esse texto do seu blog é como testemunhar a existência de uma espécie animal silvestre bela e rara, para o qual os especialistas nem mesmo tinham certeza de sua existência. Dizer meus parabéns é pouco, mas é tudo que posso fazer no momento. Bem vce não precisa ser fumante, mas só espero que não seja igual a esses antitabagistas irracionais que infestam a sociedade no momento, como pragas. Tenho certeza que há espaço para todos, por isso acho-os irracionais. Bem, se vce quiser conhecer o grupo do Facebook do qual faço parte: "Àrea de Fumantes"; ficaremos muito honrados.
Atenciosa e respeitosamente.
Claudio D'Amato

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Olá, Cláudio!

Obrigada por seu comentário tão gentil ao texto, e pelo convite a participar da comunidade "Área de fumantes" (já mandei minha solicitação para lá)!

Abraços
Danielle